domingo, 13 de maio de 2012

Franquia de bingos Cachoeira - 13/05/2012

Pelo histórico de participações empresariais, Carlos Cachoeira seria uma espécie de conglomerado de multiprodutos que vão da fabricação de sucos, indústria do entretenimento, beneficiamento de arroz à construção civil. Mas o bicheiro inverteu a lógica produtiva. O principal produto das 59 empresas ligadas ao contraventor é uma concorrida franquia de bingos espalhada pelo estado de Goiás e o Entorno do Distrito Federal.

Somente em Anápolis, Goiânia, Valparaíso e Luziânia, Cachoeira teria 39 pontos, com renda anual estimada em R$ 60 milhões, em casas com pelo menos 30 máquinas caça-níqueis. Para lavar esse dinheiro, o esquema conta com empresas administrativamente sucateadas. A negligência com as firmas é comprovada pelas pendências registradas na Previdência e na Receita Federal. Das 38 empresas que ainda permanecem ativas, 13 já estão penduradas por dívidas com a União.
Para fazer parte do bando e conquistar uma das franquias do Entorno do Distrito Federal e outras das áreas mais lucrativas de Goiás, os interessados tinham que se submeter ao crivo de José Olímpio, o responsável na hierarquia de Cachoeira por fiscalizar os lucros nos pontos de bingos e a entrada e a saída de máquinas. Nas gravações telefônicas do grupo, há relatos de "franqueados" que tentaram ser espertos aumentando o número de máquinas sem o conhecimento da quadrilha e sofreram represália do grupo armado que protege os interesses de Cachoeira. O braço armado do contraventor é composto por 30 policiais militares, 6 delegados da Polícia Civil, 2 delegados federais e um policial rodoviário federal.
A estrutura da contravenção estava enxuta graças a ações de repressão aos bingos. Cachoeira chega a dizer, em conversas com comparsas, que 80% dos pontos não estavam em funcionamento. "Meus negócios em Goiânia fecharam, em Valparaíso estão fechando, em Anápolis, eu tenho que correr para não fechar. Eu estou inseguro de tudo. Minha vida é no fio da navalha. Aqui em Goiânia, desde quinta-feira, está tudo fechado. O que está funcionando é Anápolis, precariamente", relata em uma das escutas.
Apesar de reclamar, Valparaíso continua sendo a principal avenida de atuação do contraventor. À beira da BR-040, a Rua 1 da cidade, que fica a pouco mais de 30 quilômetros de Brasília, abriga pontos de jogos disfarçados em modestos galpões.
Na noite de quinta-feira, o Correio foi até duas casas de jogos, nos bairros Parque São Bernardo e Jardim Oriente, para conferir o funcionamento dos pontos ligados a Cachoeira. Em um galpão situado atrás de uma loja de departamento na Rua 1 de Valparaíso, quatro motociclistas protegiam a entrada de uma das casas, considerada das maiores da região. Identificada como equipe de reportagem, o Correio não recebeu autorização para entrar no local.
No Jardim Oriente, o Bingo Consulado ganhou nova roupagem e se tornou o Consulado Shows depois que o Ministério Público Federal determinou que a casa tivesse o registro cancelado na Junta Comercial de Goiás. Na frente da casa, um bar sem movimento fica aberto, ao lado de um palco de shows. Um salão que fica na entrada é fechado por uma grande porta de correr. Ao perceber que a casa estava sendo fotografada, um grupo de cinco homens, dois deles ostentando arma de fogo na cintura, se aproximou da equipe do Correio.
Casas investigadas
Durante mais de um ano de monitoramento do grupo criminoso, a Polícia Federal radiografou o modo de operação do bando. Para manter suas casas de bingos abertas, o contraventor precisou construir uma vasta rede de influência, formada por forças policiais locais e da União e políticos de âmbito municipal, estadual e federal. A vista grossa das autoridades em relação à atividade empresarial de jogatina foi conquistada com a distribuição de propina e concessão de favores dentro da própria rede de influência montada por Cachoeira. Anulação de multas de trânsito, licença para a abertura de supermercados, papelarias e desenroscos alfandegários. Qualquer favor possível para os "da gente", como se refere à rede, para que a gentileza seja cobrada no futuro.
Nos grampos da operação da PF, Cachoeira reclama que está ficando caro manter a rede de cooptação, e seu personal araponga, Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, resume dizendo que o problema é que há muita corrupção em Brasília. "O Cláudio (Abreu, ex-diretor da empreiteira Delta) ontem chegou xingando esse povo de Brasília, tudo malandro", afirma Cachoeira. "Esse povo aqui é difícil demais, tá doido, nunca vi um negócio desse, todo mundo é movido a dinheiro, por isso que as coisas aqui é cara (sic), bando de corrupto, pô", reclama Dadá.
fonte: clippingmp.planejamento.gov.br

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